Embarcar no caminho de um “pantser” como a tua forma de escrever, não é apenas uma escolha; é a adoção de um espírito criativo que valoriza a espontaneidade e a intuição em contraste com o planeamento meticuloso. Esta jornada, semelhante a navegar por uma região selvagem vasta e desconhecida, sem nenhum mapa, apena com uma bússola do instinto, foi minha – uma viagem que me levou a descobrir as alegrias profundas e os desafios inegáveis de escrever guiado apenas pelo coração e pela imaginação.
O fascínio do "pantser" começa com a liberdade pura e não adulterada que ela oferece. Cada vez que coloco a caneta no papel (ou os dedos no teclado), é com uma sensação de aventura, semelhante a navegar em águas desconhecidas. É emocionante não saber exatamente para onde as correntes me vão levar, que praias descobrirei ou que tesouros estão escondidos sob as ondas do texto. Esta abordagem permite que minha criatividade flua sem impedimentos pelas barreiras da história detalhada, permitindo-me explorar as profundezas da minha imaginação de maneiras que um "guião" simplesmente não consegue igualar. A história desenrola-se em tempo real, cada reviravolta é uma surpresa, tornando o processo de escrita um ato de descoberta tanto para mim como para os meus leitores.
A liberdade de "pantsing" tem sua própria forma de disciplina. Requer uma profunda confiança nos próprios instintos criativos, uma disposição para ouvir os sussurros da mente. Este processo intuitivo é ao mesmo tempo libertador e assustador. Libertador, porque permite que a narrativa se desenvolva organicamente, conduzida pelos próprios personagens que parecem ganhar vida e vontade próprias. Assustador porque exige um salto de fé – fé no processo, fé na história que aparentemente, surge do nada e, mais importante, fé em si mesmo como o "contador de histórias".
Como um "pantser", descobri que os meus personagens desenvolvem-se com profundidade e complexidade de uma forma que nunca poderiam se eu os confinasse às restrições de um enredo pré-planeado. Eles surpreendem-me, realizando ações que eu não havia previsto, estabelecendo relacionamentos que não havia previsto e, muitas vezes, conduzindo a história a territórios que eu não imaginava explorar. Esta narrativa orientada por personagens resulta em narrativas profundamente humanas, que ecoam com a imprevisibilidade e a riqueza da vida real. É como se, ao permitir os meus personagens a liberdade de “viver” as suas vidas, a história torna-se uma tapeçaria mais rica, tecida com fios de emoção e espontaneidade genuínas.
Abraçar o "pantsing" também significa enfrentar os desafios inevitáveis que surgem dessa abordagem livre. Inconsistências no enredo, partes narrativas que parecem becos sem saída e temas subdesenvolvidos são apenas alguns dos obstáculos que podem surgir. No entanto, passei a ver isto não como falhas, mas como oportunidades de crescimento e criatividade. O processo de edição torna-se uma jornada própria, onde a matéria-prima obtida da escrita intuitiva é refinada, remodelada e aprimorada. É aqui, no processo de revisão, que a história realmente se destaca, polida pela mão cuidadosa da retrospectiva.
Uma das alegrias mais profundas de "pantsing", para mim, reside nos momentos de descoberta inesperada – aquelas perspetivas e ideias fortuitas que parecem surgir do nada. Estes momentos, muitas vezes surgindo das profundezas da mente subconsciente, podem transformar a narrativa de maneiras que eu nunca poderia ter previsto. Eles lembram-me que a criatividade não é apenas um esforço consciente, mas uma dança com o desconhecido, uma colaboração com os recônditos ocultos da mente.
O caminho do "patnser" não é para todos os escritores. Requer um certo temperamento, uma disponibilidade para abraçar a incerteza e uma resiliência face ao desconhecido. Exige uma vontade de viajar através do deserto narrativo sem um destino claro à vista, guiado apenas pela bússola interna da criatividade e da intuição.
Na minha própria jornada, aprendi a equilibrar a liberdade de "pantsing" com momentos de reflexão e planejamento, não no sentido de delinear cada passo do caminho, mas de manter um senso de direção solto, uma espécie de mapeamento intuitivo que orienta o fluxo da história. Este equilíbrio entre liberdade e direção, entre intuição e reflexão, é a delicada dança do "pantser", uma dança que é tão desafiadora quanto gratificante.
A escolha de ser "pantser" é profundamente pessoal, enraizada na abordagem de cada um em relação à criatividade e à narrativa. É uma escolha que celebra a imprevisibilidade da narrativa, a profundidade da desta é baseada nos personagens e a alegria da descoberta criativa. Pode levar a desafios imprevistos e requer vontade de se aventurar no desconhecido, mas também oferece oportunidades incomparáveis de criatividade, autenticidade e expressão pessoal.
Para quem escolhe este caminho, "pantsing" não é apenas um método de escrita; é uma prova do poder da intuição, uma celebração do espírito criativo e uma viagem ao coração da narrativa.
É uma jornada que abracei com todas as suas reviravoltas, surpresas e revelações, e que continua a me ensinar as infinitas possibilidades contidas no ato de escrever. Quer sejamos um autor experiente ou um escritor novato, o caminho do "pantser" oferece uma aventura única na essência da criatividade, uma aventura que revela não apenas as histórias que contamos, mas os contadores de histórias que nos tornamos ao contá-las.
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